Então gente, resolvi fazer algo de diferente hoje... Esses dias tive uma decepção ae [#sofrido], e resolvi transcrever isso não apenas com desenhos, decidi fazer um conto, uma metáfora do que aconteceu comigo... Espero que gostem e compreendam o que aconteceu por trás do conto...
O PEIXE, O LEÃO E A MOEDA
Em algum lugar de um passado não muito distante, havia uma humilde caravana de atores circenses que se apresentava em troca de poucos tustões nas cidades, vilas e qualquer local onde tivesse público. Mas se pensa que essa história tratará sobre algum dos atores, estão enganados, o que aconteceu foi entre seres incríveis que mesmo sendo responsáveis pelo sucesso de seus donos, eram mantidos em suas sombras.
Havia uma intérprete que dizia ser capaz de manipular seres inertes, e sua apresentação se fazia junto com um belíssimo peixe. Obiviamente que se tratava de um peixe adestrado, capaz de dar grandes saltos de um aquário para outro, deixando suas gotículas resplandecentes no ar.
As pessoas aplaudiam enquanto o pequeno e frágil peixe brandia suas nadadeiras e pulava, pulava e soltava bolhas ao simples toque de sua domadora no vidro do aquário. E assim, que sua apresentação terminava, ele era mais um a vez colocado em seus aposentos, junto com os demais animais, onde recebia sua ração diária.
O peixe nadava de um lado para o outro em seu pequeno aquário, vendo seu reflexo sempre lhe fazendo companhia. Ele não socializava muito com os macacos, cachorros e outros animais fúteis e excandalosos, preferindo ficar envolto em seus pensamentos.
Mas todos seus pensamentos eram interrompidos quando chegava o grande momento das apresentações, onde o animal mais pomposo saía das jaulas e ia ao palco com sua juba esvoaçante.
Se tratava de um grande leão. Um leão belo e jovem cuja peculiaridade era o tom claro e brilhante de sua juba, o que encantava a todos. Ele se apresentava ferozmente fazendo todos os espectadores duvidarem que seu domador realmente sairia vivo da arena. Mas é claro que o leão era domesticado, e apenas representava muito bem. Uma dádiva do povo do circo que se aplicava até aos animais, a capacidade de fingir.
O show do leão acabava, e ele era levado pelos ajudantes até a jaula, onde recebia um gratificante pedaço de carne, no entanto seu domador permanecia no palco, onde trocava de roupa em um piscar de olhos e revelava-se um mágico também! E sua especialidade eram moedas. Ele vazia aparecer moedas em todos os lugares, em todas as orelhas, e jogava-as para o ar, fazendo-as sumir em um estalo.
Todos amavam o circo.
Em um dia absolutamente normal, após mais uma grande apresentação, todos os animais descansavam em suas jaulas, e como de costume, o aquário do peixe era posto ao lado da jaula do leão. Podia não parecer possível, mas com o tempo uma incrível amizade surgiu entre esses dois seres tão distintos. Eles não precisavam falar entre si, mas apenas seus olhares se compreendiam. E nesse dia, o domador do leão foi até as jaulas para cumprimentar seus animais e ao abaixar para olhar a juba do leão de perto, apoiou alguma coisa sobre o balcão onde estava o aquário. O domador levantou-se e saiu, esquecendo então ali o que deixara.
Como de costume, o peixe continuava olhando para seu reflexo, quando finalmente se deparou o brilho ao lado e virando-se deparou com uma bela moeda. Ela brilhava dourada e em sua face possuía uma expressão tranquila, inocente. Mesmo que fosse um brilho frio do metal, akela moeda encantou o peixe de uma forma que ele nunca tinha sentido.
Encantado com a moeda, ele questionou ao leão com relação a ela, já que eles trabalhavam com o mesmo domador, portanto se conheciam. O leão advertiu-o que a moeda era muito bela, mas possuía duas caras.
Tarde demais para um aviso, o pequeno coração molhado já estava completamente hipnotizado pela beleza da moeda.
O tempo continuou passando, passando, e toda vez que os shows acabavam, o domador ia e depoisitava sua moeda no balcão. No início, ela sempre emanando aquele brilho dourado, belo, e com sua face tímida. O peixe sentia-se mais vivo que nunca. Seus saltos estavam impressionando até mesmo sua domadora. Suas nadadeiras eram como asas para sua mente amante de um brilho morto.
Mas certo dia, por um acaso, ao esperar a moeda, o domador não a pôs ao lado. Tristeza sentiu. Sentiu-se vazio, desmotivado. Claro que o leão, seu amigo animou-o, lembrando-o mais uma vez para não se apegar à moeda.
No dia seguinte, após outra apresentação, o domador entrou na sala das jaulas. O peixe estremeceu quando viu, sentiu um frio em sua espinha que o fez lembrar que só possuía espinha!
Após cumprimentar os animais, o domador deixou algo sobre o balcão e saiu. Nadando com pressa o peixe foi até o vidro do aquário e observou com alegria a moeda que estava diferente. Ela não estava brilhando, pelo contrário, estava com uma face arranhada e tenebrosa voltada para cima. Sentia uma aura negra vinda daquela moeda, o que o fez passar mal e diminuir até seus saltos, seu apetite.
Como que ao acaso, houveram dias em que a moeda estava brilhante, e outros que estava turva. Quando boa, fazia o peixe se sentir abençoado, feliz. Quando má, fazia-o sentir-se a mais inferior das criaturas. E ele nunca sabia como ela estaria. Quando a via, sentia vontade de tocá-la com suas nadadeiras, mas o destino impossibilitava isso.
O leão várias vezes o advertiu que a moeda era apenas uma diversão passageira, que era um momento de brilho que nunca o traria felicidade verdadeia, mas o peixe não queria desistir dela, queria fazer algo por ela, queria que ela deixasse de ser apenas um objeto arremessado de um lado para o outro, queria que ela tivesse valor, queria que seu corpo tivesse calor para aquecê-la. Mas tudo era em vão, pois além de não fazer nada, ela continuava lá, apática.
Por diversas vezes o peixe chorou lágrimas invisíveis na água por sua felicidade e infelicidade mútuas. Amava um ser que nunca seria dele, e insistia nisso.
Após muito tempo de felicidades e sofrimentos pela moeda, em uma bela noite de apresentações, os artistas resolveram sair para festejar e beber deixando os animais sozinhos. No fundo todos se sentiam sós. Até mesmo o leão, que era o mais belo, que desde novo sempre sonhou em ter toda a atenção que não tinha, ainda se sentia insuficiente. Durante as bebedeiras, o domador do leão acabou caindo, derrubando todas suas moedas em uma poça, mas como estava bêbado, pegou-as e guardou.
Na manhã seguinte, todos voltaram ao circo, felizes, gritando, cantando, acordando os animais como se eles mesmos fossem animais, e então, num ato trágico, o domador arremessou todas as moedas para o alto a fim de comemorar!
Pobre peixe, só teve tempo de ver sua linda moeda sendo arremessada para dentro de seu aquário, como se finalmente seu sonho de se tocarem fosse se realizar.
Ela então mergulhou no aquário, onde o peixe nadou com velocidade a fim de sentir seu brilho, tocar-lhe, dizer o quanto lhe amava, o quanto sua vida tinha um valor agora, mas ao se aproximar, viu a face amargurada para cima enquando ao redor da moeda uma camada turva se dissipava. A água suja da poça espalhava-se pelo aquário, repelindo o peixe que só queria amar...
A domadora ao ver o ocorrido, correu e tirou a moeda, justificando que o peixe poderia tentar comê-la, mas os olhos ébrios da mulher não viram a treva que a água tinha se tornado.
E ali ficou nosso pequeno amante, mergulhado na escuridão que seu próprio amor causou ao se aproximar dele.
Todos festejavam, todos riam, todos gritavam, o leão, seu amigo, balançava sua juba brilhante chamando atenção de todos, e nem sequer se preocupava com seu amigo que com dificuldades tentava tirar algum oxigenio dakela água negra.
Os dias foram passando, e o peixe continuou sua vida sem graça. Quando o domador colocava a moeda próxima, ele notava que a moeda o evitava, não brilhava mais perto dele. As moedas haviam sido lavadas pelos artistas após os festejos, e graças a algum produto químico, elas desbotaram. Mas o peixe só conseguia enxergar como sua relação com a moeda tinha esfriado. Era como se ela não fizesse mais questão de brilhar perto dele.
Ele ainda insistia... Borbulhava perto dela, ficava o dia todo olhando pelo vidro, vendo se ela lhe dava alguma atenção, mas nada vinha, nada.
Passou-se um tempo naquela mesma situação, até que uma grande apresentação ocorreria. O domador entrou na sala das jaulas procurando suas moedas, mas só avistava aquela. Ele pegou-a rapidamente enquanto se perguntava onde estavam as outras, pois para essa apresentação o número de mágica seria o primeiro, onde ele faria as moedas todas desaparecerem. O peixe sentia-se desolado vendo seu amor ser levado sem nem ao menos lhe cumprimentar.
Enquanto isso o domador ligava desesperado para a outra domadora, perguntando porque do atraso dela, já que ela deveria se apresentar entre o número de mágica e o número de domação. Ela respondia estérica que havia um contratempo e que não chegaria a tempo, que só poderia chegar depois do número de domação dele, e que ele fizesse tudo direto.
A mágica ocorria enquanto o peixe, pela fresta da porta das jaulas, olhava o espetáculo e até se esquecia um pouco dos problemas. Via as risadas das pessoas, via as pessoas felizes.
Então, sua felicidade foi interrompida pela mágica. Ele viu pouco a pouco as moedas sumindo na mão do mágico. O peixe estava desesperado, como pudera sumir com as companheiras e irmãs de sua amada? O peixe preocupava-se, queria fazer algo para que sua moeda não ficasse triste, mas ela continuava lá, sendo lançada para o ar, apática, como que não querendo mostrar sua dor. Até que finalmente todas as moedas sumiram.
O peixe ficou arrasado. Não podia aceitar perder sua amada, essa distancia o mataria. Ele precisava saber se ela estava bem, mesmo que ela o rejeitasse, ele aceitou amá-la incondicionalmente, ele só queria fazê-la feliz, só queria que ela sorrise perto dele. Mas ela se ausentou por completo.
Chegou então o momento do show, e o mágico trocou sua roupa, aparecendo com um chicote! Os ajudantes tiraram o leão da jaula, levando-o ao picadeiro. O peixe não conseguia nem admirar o trabalho de seu amigo, só se preocupava com sua amada moeda.
O chicote estalava e o leão glorioso pulava, rugia, saltava, rolava, deixava os palhaços enfiarem a cabeça em sua boca e levava a platéia ao delírio, arrancando aplausos de todos. E com uma grande chibatada capaz de chamar atenção até do peixe, o leão pôs-se de pé sobre um grande apoio, soltando o mais feroz rosnado, enquanto que com um estalar de dedos do domador, lá estavam todas as moedas caindo, rodando e brilhando em volta do leão!
Os olhos do peixe não conseguiam distinguir o que estavam vendo. No meio daquela multidão de moedas, estava sua amada, girando e rodeando seu amigo, brilhando intensamente ao seu lado, enchendo-o de calor, de glória, bajulando-o, enquanto que de dentro do aquário, nosso amante só queria um sorriso dela...
Mesmo ciente que o brilho delas poderia ser reflexo da juba do leão, ele sentia dor ao ver o quanto elas caíam no chão, cintilando, todas com as faces sorridentes pro alto, e no meio de todas, estava sua amada, sorrindo e brilhando pelo seu amigo.
O leão voltou à jaula, gabando-se do espetáculo, rindo e brincando com todos os animais, enquanto o peixe não conseguia nem ao mesmo expressar seus sentimentos. Sentia-se patético diante do brilho do leão, capaz de seduzir qualquer um. Não que desejasse mal a seu amigo, muito pelo contrário, amava-o como a ninguém mais, mas sentia-se pequeno diante dele, sem poder, vendo que até sua amada o preferia a um limitado e fraco peixe.
Então, sua domadora chegou, correndo esbaforida, trocou-se, pegou seus apetrechos e levou o aquário em direção ao picadeiro.
Somente aí, depois de toda a empolgação que o leão percebeu um brilho triste nos olhos do peixe, como se estivesse chorando dentro da água. “Chorando dentro da água? Não é possível!” pensou o leão, mais uma vez ignorando o pranto de seu amigo.
O peixe foi sendo carregado, enquanto olhava as moedas ainda caídas no chão, todas apagando seu brilho ao refletir o vidro apático de seu aquário, até mesmo sua amada. Ele foi colocado sobre o grande apoio, e sua apresentação coincistia em saltar por dentro de círculos suspensos no ar e cair dentro de outro aquário. Sua domadora batia o vidro delicamente, percebendo algo estranho no comportamento do peixe. Batendo um pouco mais forte, fêz-lo mexer-se, mesmo que não soubesse que o coração daquele peixe estava completamente vazio, desolado.
Mesmo assim, ele se esforçaria por sua querida domadora, assim como se esforçaria por seu amigo leão, assim como se esforçaria pela sua amada moeda, e fingindo estar tudo bem, rodou, rodou, rodou no aquário, tomando impulso e saltando!
Voava no ar, sentindo um silencio anormal. Via os brilhos dos olofotes e notava o quanto eram frios, como sentia-se triste, e como que quisesse apertar seu peito para aquecer seu coração, apertou as nadadeiras, perdendo assim o equilíbrio, batendo em uma das argolas suspensar e tombando, mas não dentro do aquário. Bateu na borda, tombando não só o aquário como a si mesmo na areia da arena.
Todo o silêncio foi interrompido pelo vidro quebrando! Até o leão pôde ouvir de dentro de sua jaula, preocupando-se.
A domadora correu a socorrer o peixe para botá-lo dentro do outro aquário ainda inteiro. O tempo fora da água não foi nada, pois desde o momento em que caía até o impacto com a terra ele só pensava no quanto era incapaz de despertar o amor nos outros, por isso, nem sentiu a dor de cair no meio dos cacos do aquário.
A domadora saiu constrangida do picadeiro, levando-o para a sala das jaulas, onde finalmente pôde observar com atenção as pequenas gotas vermelhas se dissipando através dos olhos do peixe, tornando sua água turva.
Turva... Era exatamente assim que a visão do pequeno peixe tinha se tornado... Turva e escura, pois havia cortado os olhos com a queda e a areia do picadeiro só agravou a situação.
O leão finalmente viu o quanto seu amigo estava mal, e tentou consolá-lo, mas já estava feito, todo o mundo de beleza em que vivia o precioso peixe tornou-se treva, e ele nunca voltaria a se apaixonar pelo brilho de mais ninguém, mantendo seu coração submerso num poço do esquecimento e da escuridão...